Amor no sentido de romance, esquecendo a parte fraternal e amizades, claro. Carrego na mala alguns projetos de relacionamentos, uns quase namorados, meios carinhos e fins inteiros, sem nem ter havido começos. Mala pesada, que vira e mexe prejudica minha coluna, mas poderia ser pior. Sou viciada em atropelar as coisas e sair jogando vírgulas pra tudo que é canto, vivo com a impressão de que meus começos já são os meios e talvez nem seja impressão. Sou mal acostumada a ser sincera e isso nunca me permitiu jogar, trocar de papel conforme a trama mudasse a direção. E quem não joga em tabuleiro, tende a virar peão.
Meu primeiro quase amor foi a minha paixão louca e platônica, tradicional, não? Três anos e uma novela mexicana. Algumas declarações infantis, menino paciente, nunca tivemos nem amizade e acredito que nesse ponto da vida se iniciou meu costume em sofrer. Como se fosse uma zona de conforto anti-amor, enquanto eu esperava desesperadamente que o amor invadisse, porque na realidade todo o conforto sempre foi só fachada.
(...)
Dois anos, algumas horas de felicidade extrema, milhões de litros de lágrimas, muita imaturidade, eu virando boneca numa prateleira cheia de desculpas e egoísmo. Só que hoje em dia boneca anda, então fui embora, odeio lugar apertado. O fim mais difícil e adiado da minha vida, mas de parto normal.
Eu completamente metódica, cheia de listas, horários, conceitos e preconceitos. Ele completamente do avesso, me virando de ponta cabeça e me deixando o que eu nunca fui na vida: leve. A pessoa mais louca e sensata que eu já conheci na vida. Quatro meses que me valeram uma vida, meu segundo aborto de amor. Minha rota de fuga usada contra mim, justo na vez que eu daria tudo pra ficar, mesmo não sabendo. Senti direto na pele, pela primeira vez sem armadura. Respeitei.
Queria falar sobre dedo na ferida, vodka com gelo e saudade, travesseiro molhado. Queria dizer que tô acostumada demais a sofrer e, talvez por isso, reconheço e acolho as dores de todas as minhas tentativas de amor e me assusto com coisas que só fazem bem, sem nem arranhar. Não sei quase nada do amor. Nada além de romances literários, filmes de comédia romântica, desabafo de amigas e umas poucas tentativas extremamente mal sucedidas. Conheço e admiro de nome, mas queria compartilhar minha única certeza: Amor mesmo não dói.
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